quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Quando eu crescer...

Quero ser uma excelente oradora, uma profissional competentíssima, uma exímia viajante, uma insigne mãe; quero contribuir ativamente para uma construção do mundo e mais ativamente ainda para sua desconstrução, sempre que for necessário; quero argumentar; quero contra-argumentar; quero convencer e ser convencida; quero que meu melhor seja adotado por quem deseja e meu pior, apontado e questionado. Quero muito mais! Sempre!

Só não quero, com uma certeza que preenche todos meus poros, ser POSER. Nada pessoal, quantas pessoas por aí passam a vida toda querendo ser o que as pessoas querem que elas sejam? Quantas almas por aí querem se destacar de tal maneira que são capazes de ultrapassar todos os limites sociais e pessoais para conseguirem isso?

Eu não: não quero a responsabilidade de ter “inovar” com “mais-do-mesmo” para convencer os outros que eu sou alternativa.

Nada de fotinhas que só combinam com 'orkult','fakebook': quero fotos de porta-retratos. Nada de aportuguesar o Inglês com 'répi hora' daqui ou 'riléx' dali num pretenso domínio modesto e 'neologismo'(?) de vanguarda.

Todos têm vontade de se encaixar (onde quer que seja), de se sentir seguro e acalantado em grupo. Vez ou outra acabamos sendo menos o que somos de fato para sermos mais amadas (será?), respeitadas ou admiradas; mas fazer disso um estilo de vida já é um pouco além, não é?

Nada como apreciar “Heart Breaker”, da Mariah Carey, e não achar que isso define meu gosto musical ou determina quem eu sou. O barato de sermos quem somos é que, vez ou outra, encontramos alguém que quer ser nós.


PS: Que saudades de estar por aqui mais frequentemente!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

é isso aí que eu queria ter dito


Por Antonio Prata
Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins.Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de 150 anos. (Deve ter alguma coisa de errado com uma vanguarda de mais de 150 anos, mas tudo bem).
No bar ruim que ando freqüentando nas últimas semanas o proletariado é o Betão, garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas acreditando resolver aí 500 anos de história.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar "amigos" do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura.
- Ô Betão, traz mais uma pra gente, eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte do Brasil.
Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte do Brasil, por isso vamos a bares ruins,que tem mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gateau e não tem frango à passarinho ou carne de sol com macaxeira que são os pratos tradicionais de nossa cozinha.Se bem que nós, meio intelectuais, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gateau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda.
A gente gosta do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil.Assim como não é qualquer bar ruim.Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne de sol, a gente bate uma punheta ali mesmo.Quando um de nós, meio intelectuais, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectual, meio de esquerda freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim.
O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas.Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e nesse ponto a gente já se sente incomodado e quando chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual, nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e universitários, a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó.Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV.Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevete e chinelo Rider.Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico.E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo.
Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem.Os que entendem percebem qual é a nossa, mantém o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam em 50% o preço de tudo.Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato.Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae.Aí eles se fodem, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão brasileira, tão raiz.
Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda, no Brasil!Ainda mais porque a cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelo Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gateau pelos quatro cantos do globo.Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda, como eu que, por questões ideológicas, preferem frango a passarinho e carne de sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca mas é como se diz lá no nordeste e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o nordeste é muito mais autêntico que o sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é mais assim Câmara Cascudo, saca?).
- Ô Betão, vê um cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Densidade

Gosto que as coisas tenham significados ou que a elas possa ser atribuída significância. Não gosto das coisas superficiais, banais ou corriqueiras. Nada que me aproxime das máquinas, por me expor a repetições ou atos mecanizados; nem situações que dispensem minha racionalidade, fazendo de mim apenas animal. Gosto de planejamento, de metas, de objetivos, concretos ou não, de floreamento, de cor, brilho e de raison d'être. Gosto de saber que não vim a vida "a passeio", embora goste muito de passear. Ainda me é alheia a razão da minha existência, entretanto, enquanto não descubro, sigo dando significado ao meu trabalho (in)significante: gosto de vê-lo como um processo criativo no qual eu tenha parte fundamental e exclusiva na criação. É um esforço mental e nessa brincadeirinha as coisas que eu toco viram ouro. Não, na verdade viram outra coisa, e essa coisa passa a existir por alguma razão, e ter essa finalidade em si já faz meu dia valer a pena. Sigo tentando horas desvendar a mensagemque algum autor de livro ou roteirista ou diretor de filme quiseram passar. Divagoexaustivamente sobre ações e intenções. As coisas não são destituídas de sentido, ainda que seus valores e significados não sejam absorvidos ou sentidos na pele. Nada é por acaso, exista o destino ou não. Também não é por acaso que você reproduz um bom ou mau hábito; ou que você pensa de uma maneira; ou, ainda, que você ame sempre um determinado tipo de carater, independente do amante. Inclusive não é por acaso que o o bordão 'nada é por acaso' é reconhecido e adotado por muitos.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Quanto tempo, mas ainda não é tempo. Por enquanto, apenas um pouco de Pessoa, um pouco de mim e muito de protesto...

Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie - nem sequer mental ou de sonho -, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.
Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso.
Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez numa selecta o passo célebre de Vieira sobre o rei Salomão. «Fabricou Salomão um palácio...» E fui lendo, até ao fim, trémulo, confuso: depois rompi em lágrimas, felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais - tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei: hoje, relembrando, ainda choro. Não é - não - a saudade da infância de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica.
Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico.Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.

Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Sobre gostos e Umbigos...

Na falta de tempo e maiores inspirações (ou tempo para maiores transpirações) para escrever, eis um papo furado. É o seguinte, na maioria das vezes não acho que nasci na época certa:

Pra me divertir, preferiria ter vivido nos anos 80. Adoro Sidnei Magal, Serginho Malandro, Gretchen, Prince, Cindy Lauper e contemporâneos. Nhammy! Nada de Aviões do Forró, Calipso, Jota Quest, Victor & Léo, Chiclete com Banana e afins...

Para me vestir, a época medieval. Acho extremamente sexxxy corseletes que evidenciam o colo e aqueles saiotes a lá “bolo de noiva”.

Para fumar, beber e dançar, definitivamente a belle époque francesa.

Para ser amada, definitivamente a segunda fase do romantismo. Adoraria ser objeto de devoção e amor incondicional de alguém. Para corresponder esse amor, só nascendo ultra romântica também.

Para uma boa pegada, definitivamente o realismo. Desejos febris e proibidos, derretimento sobre braços, mãos não tão bobas quanto as da nossa geração e olhares lascivos.

Para pensar, alimentar o cérebro e revolucionar, definitivamente os anos 60. Adoraria ser hippie e fazer parte do cenário pintado em “Os sonhadores”.

Para ser mulher, definitivamente algum lugar no futuro, no qual poderemos ser ousadas e atrevidas sem sermos confundidas e no qual poderemos ser profissionais, mães e donas de casa numa sem termos que acumular funções porque ‘lugar de mulher é na cozinha e lugar de homem é no sofá’. Detestaria ser uma das “mulheres de Atenas”, viver na época de Nietzsche ou nos inúmero séculos nos quais o papel da mulher era restrito a esfera doméstica.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

ORKUT NÃO FALHA

Sorte do dia: Você nunca vacila ao enfrentar os problemas mais complexos.


E hoje vou resolver um dos bravos, pena que só temporariamente.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A tristeza convida...

Tenho horror a frases reproduzidas, clichés e outras descrições baratas. Gosto mesmo é de metáforas, alegorias, antíteses, antonomásias, hipérboles, oximoros e sinestesias. Gosto de coisas ilustrativas! E gosto também (como não citar?) de ironia e sarcasmo.

Portanto, não me venham como "A felicidade é um bem que se multiplica ao ser dividido"; não compro, não me atrai, não me satisfaz. Pra mim, felicidade deve ser outra coisa, muito mais grandiosa que isso, a qual nem sei bem descrever. E não sei fazê-lo não só porque me recuso a usar os tais recursos baratos, mas também porque, diferente da tristeza, a felicidade não é um estado de espírito, e sim um lugar. Felicidade para mim é um conceito condicionado: a existência de um sol lá fora, se o que eu estiver procurando é me acalentar pelos seus nobres raios; a uma viagem, se for fuga o que eu busco; a um carinho inesperado; a qualquer evento que me introduza uma nova perspectiva ou que acumule meu conhecimento. Sendo, então, um conceito condicionado a minha volatividade, fica meio impossível pensar em algo concreto para eternizá-lo em palavras.

Pra mim não existe "felicidade é o caminho e não o fim", felicidade não é substantivo, é verbo! É ação, e está acontecendo continuamente nesse momento em que escrevo. Felicidade às 12h08m dessa quinta feira azulada é olhar na janela e saber que esse enquadramento que ela me impõe pode ser facilmente superado se sair à rua ou à sacada. Felicidade, às 12h10m é saber que em breve encontrarei um amigo querido de voz rouca sexxxy. Felicidade, agora, é achar que tudo está longe de ter um fim!

A felicidade parece que é subjetiva, enquanto tristeza é universal. Que loucura isso hein? Se eu falar na felicidade de comer uma trufa de flor de laranjeiras, só entenderão aqueles que gostarem de tal iguaria e tiverem o mesmo tesão em comida que eu, os outros possivelmente ignorarão tal sentimento ou mesmo o desprezarão. Já se eu falar naquele vazio consumidor, que modifica todos os significados e deixa em dúvida o fato de a vida valer a pena, ahhh, aí todo mundo começa a SE ler no papel. A tristeza é assim, minha gente, ela convida.